Na história da humanidade temos conhecimentos de vários episódios de mortes coletivas, em diversas civilizações, países e épocas. Desde desastres naturais, aos crimes coletivos, guerras, acidentes aéreos, grandes incêndios e acidentes automobilísticos, a humanidade tem chorado desenlaces coletivos.

A violência e o inesperado quando presentes nestes eventos, aumenta ainda mais o sofrimento de quem ficou, especialmente os parentes e pessoas próximas. A leitura de suposta injustiça divina ou as leis cósmicas não bem compreendidas, dificulta a aceitação de algo tão doloroso, mas, sempre presente na história humana. Parece que as tentativas de consolo com argumentos frágeis, até de boa vontade, não ajudam muito quando não se tem vínculo com aquele que sofre. Ficar calado e a disposição para alguma ajuda parece ser a melhor opção. Interferir, se não tiver formação adequada, pode não trazer bom resultado.

O caso recente ocorrido em Jacobina, num trágico acidente automobilístico, de grupo de jacobinenses que foram se divertir em família, comoveu toda a cidade, região, país. Amigos e parentes meus de outros estados ligaram. A imprensa nacional noticiou. A cidade se mobilizou para prestar solidariedade. Mas, a dor e a demanda de luto será individual, dentro do olhar de mundo de cada um que ficou.

O luto será individual, com diversas particularidades, pois somos singulares e nossas respostas ás perdas e sofrimentos também. Acolher alguém em sofrimento por luto requer algum vínculo com o assistido além de saber específico. Solidariedade, empatia, estar ao lado, se mostrar disponível é mais plausível.

“O luto (a aceitação da morte) pende para o lado da vida, quando a melancolia nos encerra na mesma morte que ela recusa” diz o filósofo André Comte-Sponville, ao discutir a obra de Freud. Quando o evento se dá de forma abrupta, inesperada e violenta, como o que ocorreu no dia 07 de Janeiro passado com um grupo de jacobinenses é bem mais difícil de ser enfrentado, quando, as vezes, demanda cuidados psicológicos.

De comum, a maioria da população brasileira, não pensa na morte, em perdas ou na superação deste fato natural. Alguns adeptos de algumas religiões tem mais facilidade de lidar com o fato por tratarem mais do assunto e terem alguma expectativa de continuidade da vida fora do plano físico. A grande maioria das religiões são espiritualistas e acreditam em algo além da matéria, mas, nem todos os seguidores, adeptos, buscam maior aprofundamento na vivência da sua religião ou forma de ver o mundo.

Os materialistas, de fato, tendem a sofrer mais por uma perda definitiva, quando nem mesmo a memória dos bons momentos servirão muito para consolo, já que são imateriais.

De qualquer forma, que todos os enlutados desse acidente tenham recebido algum consolo, entendendo ou não os princípios que regem o universo, que consigam viver o luto em paz, sem o assédio dos curiosos de oportunidade, resinificando suas vidas, valorizando ainda mais os que partiram antes. Que Deus ilumine a todos, entendendo ou não as Suas Leis. Especialmente aos que foram antes de nos.

Cledson Sady Janeiro de 2024
Membro da Academia Jacobinense de Letras