Reportagem: Poliana Fontenele/ Agência Rádio
A vacinação contra a Covid-19 chegou para os povos tradicionais quilombolas da região de Jacobina (BA). A região é formada pelos municípios de Jacobina, Caém, Mirangaba, Quixabeira, Morro do Chapéu, Miguel Calmon, Várzea Nova, Ponto Novo, Ourolândia e Caldeirão Grande, que juntos concentram mais de 18 mil pessoas autodeclaradas descendentes e remanescentes de escravizados, segundo o Instituto de Geografia e Estatísticas (IBGE). Entretanto, os dados oficiais do IBGE apresentam discrepância em relação aos dados informados pelas Secretarias Municipais de Saúde.
Em Mirangaba, por exemplo, o IBGE estima que tem uma população quilombola de 3.458 pessoas, mas a Secretaria Municipal de Saúde reconhece 2.194 quilombolas no município. Até o fechamento desta reportagem, 1904 pessoas desse grupo prioritário tomaram a primeira dose da vacina, o que representa aproximadamente 86% do público alvo. 24 receberam a dose 2. Já em Várzea Nova, o IBGE aponta que existem 639 quilombolas, mas a Secretaria Municipal de Saúde não reconhece esse público.
Cidades da região de Jacobina com registro de Quilombolas | População Quilombola (IBGE) | Vacinados 1a Dose (Painel MS – 24/06) | Vacinados 2a Dose (Painel MS – 24/06) |
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Jacobina | 7.589 | 355 | 10 |
Caém | 3.504 | 357 | 49 |
Mirangaba | 3.458 | 1904 | 24 |
Quixabeira | 907 | 465 | 74 |
Morro do chapéu | 858 | 765 | 0 |
Miguel Calmon | 782 | 442 | 76 |
Várzea Nova | 639 | 0 | 0 |
Ponto Novo | 549 | 115 | 0 |
Ourolândia | 262 | 1 | 1 |
Caldeirão grande | 231 | 127 | 43 |
Total | 18.779 | 4.531 | 277 |
No município de Jacobina, 367 km da capital baiana, Salvador, 355 membros dos 11 territórios remanescentes de quilombos foram vacinados com a primeira dose, segundo o Ministério da Saúde, o que representa 4,6% do número de quilombolas pelo IBGE (7.589). Mas a Secretaria Municipal de Saúde reconhece apenas 940 quilombolas no município e afirma que vacinou cerca de 37,7%. Desde o início da pandemia, até o dia 24 de junho, foram registrados 6,3 mil casos de infecção pelo vírus no município, com 87 óbitos. *Dados até 24/06. Fonte: Ministério da Saúde/IBGE
Francieli Fantinato, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde explica a importância da vacina nos grupos prioritários. “As comunidades quilombolas são populações que vivem em situação de vulnerabilidade social. Elas têm um modo de vida coletivo, os territórios habitacionais podem ser de difícil acesso e muitas vezes existe a necessidade de percorrer longas distâncias para acessar os cuidados de saúde. Com isso, essa população se torna mais vulnerável à doença, podendo evoluir para complicações e óbito.”
A coordenadora do Núcleo de Vigilância Epidemiológica de Jacobina, Lorena Carla Bonfim da Silva, afirma que a vacinação foi realizada nas próprias comunidades, para evitar o deslocamento desse grupo para a zona urbana: “Fazemos um levantamento prévio em cada área. Conforme tenham doses disponíveis, programamos para enviar uma equipe de imunização, para fazer a vacinação dessa população in loco.”
Uma das imunizadas é Maria Dalva Macelina do Ramo, de 68 anos, moradora da comunidade de Êre, zona rural de Jacobina. Ela afirma estar aliviada por um lado, mas triste ao se lembrar daqueles que perderam a batalha para a doença devido ao medo e à desinformação: “Essa semana eu perdi um amigo. Não aceitou ser vacinado e ele faleceu. Essa vacina é importante. Nós não estamos 100% livres dessa doença mesmo vacinados. Que todos se vacinem para que sua vida continue.”
Jean César Moreira da Silva, 42 anos, é um dos líderes quilombolas da região e incentiva que os que não se vacinaram a buscarem orientação nas lideranças e nas Unidades Básicas de Saúde: “Muita gente, como quilombola, ainda falta ser vacinada. As pessoas que são quilombolas e não foram vacinadas, devem recorrer em busca do seu direito via Secretaria de Saúde.”
Prioridade Quilombolas
No Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, divulgado em 16 de dezembro de 2020, grupos socialmente vulneráveis foram incluídos como prioridade no calendário de imunização. Entre eles, a população quilombola que vive em comunidades tradicionais e que, segundo o último levantamento realizado pelo IBGE, em 2019, representa mais de 1,3 milhão de brasileiros. Essa prioridade se faz necessária diante da falta de acesso desse público à saúde, já que grande parte vive em zonas rurais, afastadas do ambiente urbano. A Bahia é o maior estado brasileiro em população quilombola, com mais de 268 mil habitantes, de acordo com levantamento do IBGE de 2019.
Para facilitar o enfrentamento da Covid-19 entre quilombolas e indígenas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) antecipou a divulgação da base de informações geográficas e estatísticas sobre essa população em maio de 2020. O levantamento foi realizado em 2019.
Proteja-se
Se você sentir febre, cansaço, dor de cabeça ou perda de olfato e paladar procure atendimento médico imediato. A recomendação do Ministério da Saúde é que a procura por ajuda médica deve ser feita imediatamente ao apresentar os sintomas, mesmo que de forma leve. Após a vacinação, continue seguindo os protocolos de segurança: use máscara de pano, lave as mãos com frequência com água e sabão ou álcool 70%; mantenha os ambientes limpos e ventiladores e evite aglomerações.
Vacinação na Bahia
De acordo com o Ministério da Saúde, a Bahia recebeu mais de 7 milhões de doses da vacina contra a Covid-19. Desse número, 129.117 foram aplicadas na população quilombola, até dia 24 de junho. A vacina é segura e a principal forma de se proteger do novo coronavírus. Fique atento ao calendário de imunização do seu município. Para saber mais sobre a campanha de vacinação em todo o país, acesse gov.br/saude.
Serviço
Quilombolas que vivem em comunidades quilombolas, que ainda não tomaram a vacina, devem procurar a unidade básica de saúde do seu município. Para mais informações, basta acessar os canais online disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Acesse o portal saude.gov.br/coronavirus ou baixe o aplicativo Coronavírus – SUS. Pelo site ou app, é possível falar com um profissional de saúde e tirar todas as dúvidas sobre a pandemia.