Reportagem: Luiz Felipe Fernandez/ A Tarde. Foto: A Tarde
Enquanto a iminência de uma nova onda de Covid-19 ameaça o país e contrasta com o avanço da vacinação, a geração de empregos em algumas cidades da Bahia tem merecido destaque. Os municípios de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, Luís Eduardo Magalhães, no extremo-oeste, e Vitória da Conquista, no sudoeste baiano, lideram os números no estado e mostram que saúde e economia na pandemia não são questões antagônicas, mas que andam juntas e se complementam.
Em Lauro de Freitas, foram gerados 4.717 novos postos de trabalho formal no mês de abril, de acordo com dados do Caged. Logo em seguida, Vitória da Conquista, com 3.474 novos empregos gerados, e em 3° na lista, Luís Eduardo Magalhães, com 3.023 novos postos. No geral, o estado da Bahia teve um saldo positivo de 9.207 postos de trabalho neste mês, com 52.539 admissões e 43.332 desligamentos.
O histórico e a característica das cidades e sua inserção na “dinâmica socioeconômia atípica” no cenário de pandemia como define Guillermo Etkin, coordenador de Pesquisas Sociais da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), justifica o resultado acima da média. Na cidade vizinha a capital, Lauro de Freitas, a geração de empregos foi impulsionada pelo crescimento dos serviços de saúde. Em Conquista, o comércio e produção de roupas e acessórios, principalmente em couro, foram determinantes, enquanto que LEM colhe os frutos do momento de alta produção e demanda internacional do agronegócio.
“O resultado do emprego nestas três cidades reflete a dinâmica socioeconômica atípica que estamos passando. Estas cidades médias possuem destacada inserção na dinâmica regional sobretudo em fluxos de comércio e serviços. A geração dos saldos positivos de empregos em Lauro de Freitas foi motivada pela ampliação da oferta de serviços de saúde no município, que demandou mais mão de obra terceirizada e profissionais a área. Em Vitória da Conquista, o segundo município baiano que mais gerou postos de trabalho, sua vocação para fabricação e comércio de vestuário foram influências decisivas para o mercado de trabalho local. Já Luís Eduardo apresenta saldo positivo no Comércio ligado ao agronegócio, que passa por um momento de alta produção”, explica.
Prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho (PT) atribui a diversos fatores o bom índice de empregos gerados, mas principalmente pelo esforço em ajudar os comerciantes a se adequarem em um momento de necessário distanciamento social para evitar a disseminação da Covid-19. Em conversa com o Grupo A TARDE, a petista destacou o aplicativo “Cidade Solidária”, que concentrou diversos estabelecimentos e promovia a venda por delivery.
“Esse aplicativo ajudou demais não só os pequenos empresários, mas também ajudou os trabalhadores, deu emprego para o pessoal da entrega”, justificou Moema, que lembrou a chegada do Parque Shopping, inaugurado em março do ano passado. Apesar das idas e vindas do fechamento do comércio, Moema ressalta que o shopping também impulsionou a geração de novos postos de trabalho nas lojas e serviços.
Moema destaca a estratégia de “lockdown parcial”, que consiste na testagem nos bairros onde há denúncia de festas e “paredão”, para a partir daí aplicar medidas específicas para a região.
“Eu não fiz lockdown completo, mas parcial. Eu via onde tinha paredão, mandava o ‘caminhão’ para fazer os testes e fechava de acordo com as necessidades dos bairros, foi uma grande diferença de Lauro em relação ao comércio”, disse a prefeita, que promete ainda implementar ações como o cartão de crédito para servidores públicos para incentivar o giro da economia local, a “qualificação digital”, para ajudar na formação dos empreendedores e também medidas voltadas ao “fortalecimento da agricultura familiar”.
Júnior Marabá (DEM), que assim como Moema está no seu segundo mandato na Prefeitura de Luís Eduardo Magalhães, concorda e defende que as medidas sanitárias tomadas em conjunto com a população e setores da sociedade, como o de comerciantes, ajudou a dar uma sobrevida ao município apesar da crise sanitária.
“A gente teve muita cautela e consegui resguardar e criar emprego. Soubemos tratar a pandemia cm a devita atenção para proteger vidas e paralelo a isso, trabalhar bem o nosso comércio. Quando existe o momento de flexibilizar, também tem outro de criar medida mais restritivas. Não foi uma decisão imposta à população, tudo foi conversado com entidades e tivemos muita cautela. Acho que isso contribuiu demais”, declarou à reportagem.
Potência do estado e no Nordeste no ramo do agronegócio, LEM se beneficiou da alta demanda por alimentos em todo o mundo. Se já representa 14% das exportações da Bahia, segundo o prefeito, o crescimento da produção exigiu a contratação de mão-de-obra. O desafio agora, diz Marabá, é conseguir “beneficiar o produto interno” com esse comércio para o exterior, e converter em benefícios para a população.
“Luís Eduardo hoje é a maior exportadora da Bahia, mas isso não nos orgulha, porque há uma ineficiência em beneficiar o nosso produto interno. Tem giro sim, financeiro, de produtividade, mas a grande massa caba indo para fora com a alta demanda de exportação”, destaca o demista, lembrando que a cidade fica localizada em ponto estratégico, com fácil escoamento para outras cidades do Nordeste, Norte e Centro-Oeste.
No setor do comércio, a cidade também ganhou quatro restaurantes na avenida principal, próxima ao centro da cidade, que está sendo revitalizado.
“Tivemos a abertura de quatro restaurantes de alto nível. Mesmo com as restrições, viram que a gente está organizando a cidade, melhorando as avenidas com o novo projeto que recapeou o centro da cidade […] tentamos ajustar uma gestão eficiente, sem assistencialismo, mas com uma gestão técnica e humanizada”, assegurou.
Cautela – O saldo positivo na geração de empregos e o movimento no mercado de trabalho não deve ser encarado como um sinal de franca retomada da economia, alerta Luiz Mário, especialista em Conjuntura Econômica da SEI. O discreto crescimento de 1% do PIB mostra que a realidade do estado ainda é difícil, com a perda de arrecadação dos municípios e a alta taxa de desemprego, que deve demorar a ser corrigida mesmo com o avanço da vacinação e a gradativa retomada da economia.
“Os últimos dados divulgados pela SEI, como o PIB do primeiro trimestre, mostra crescimento em relação ao trimestre anterior, embora ainda apresente queda em relação ao primeiro trimestre do ano passado [ainda no início da pandemia]. O mercado de trabalho formal continua contratando, então temos expectativa de recuperação, ainda que lenta, pelo processo de reabertura da economia, isso já é um alento […] mas ainda temos dois problemas que é a taxa de desemprego muito elevada e o processo inflacionário que afeta o poder de compra da classe trabalhadora”, explica Luiz Mário, que adverte ainda para uma possível crise hídrica e de energia, que tem sido ventilada nos últimos tempos.
“Uma questão de possível racionamento de energia e água, poderia frear ainda mais este processo de retomada”, salienta.
Guilherme Etkin acredita que ainda é precipitado se falar em recuperação dos empregos e da economia, já que os indicadores ainda estão em seus piores níveis desde 2014. Ele retifica que ainda existem dados “represados” pelo Ministério da Saúde sobre desligamentos e que dados do PNADC e IBGE indicam que a Bahia teve “uma redução de 192 mil postos com carteira assinada entre 2020 e 2021”.